domingo, 13 de março de 2011

Amar la trama- Jorge Drexler.. Um review. Uma análise.




Esse fabuloso cd do cantor e compositor Uruguaio, Jorge Drexler, é o divisor de águas da sua própria música. Altamente influênciado pelos ares cosmopolitas de Madri onde mora pouco mais de 10 anos, percebe-se nesse novo álbum uma alegria constante e letras mais descompromissadas, em relação ao "12 segundos de oscuridad".
Vê-se novidades no seu line-up e na sua sonoridade: acompanhado por trio de metais e por instrumentos que ainda não tinham sido usados em trabalhos anteriores seus. Seu setlist se equilibra em sons jazzísticos, batidas leves e contagiantes. Consegue tb livrar-se um pouco da bossa-nova brasileira que parecia incrustada na sua musicalidade. Adiquire, mais liberdade no encaminhamento de suas músicas dando verdadeiros clímax a elas.
E foi um álbum gravado totalmente ao vivo, num estúdio de tv adaptado. Foram escolhidas a cada take 20 pessoas escolhidas ao acaso para acompanhar a gravação, para que o Drexler pudesse "sentir" o álbum, e quais mudanças deveriam ser feitas a partir das reações do público. Ou seja, um álbum atípico.


 Então vamos ao set list:

1. Tres mil millones de latidos: Sem dúvidas não há forma melhor de começar o álbum. Tres mil millones, dá uma intensa sensação de instiga, de vontade, querer sentir a música entrando por entre seus ouvidos e que ela ela siga pelo seu cérebro e adentre seu corpo. Muito cativadora, possui um violão de início marcante, tanto como um riff do pixies, seguida de uma percussão intrigante e dos metais dando a entender como será o restante do disco. E com certeza, um dos títulos mais inteligentes que eu já vi. Prá quem não sabe, "3 mil milhoes de batidas" é o que o coração normalmente bate durante a vida de um ser por 80 anos. Com esse título Drexler debruça-se na idéia de que temos de viver a vida e não estar só de passagem. 
Até a ausência da bateria comendo e o final com a arte dos metais dá um tom diferente à apresentação desse álbum.

2. La Trama y el desenlace: Dando seguimento a onda de luz da primeira faixa do cd, Drexler introduz ao ouvinte uma novela amorosa, que parece ser a dele mesmo, ou de algum casal que ele havia observado.
E já nos delicia de cara com uma gaita bem atraente. Seu seguimento e seu corpo harmônico, dão sensação de uma história mesmo. Uma novela que vai tendo seus capítulos destrinchados com as passagens da música, tendo seu clímax no refrão. Nos mostrando que a história não tem fim e o que importa é a trama e não o resultado. A grande sacada dessa trilha, é exatamente o jogo de palavras, o cultismo, e em certas horas o casamento entre letra e música. Além dos backing vocais, muito bem feitos pela banda.


3. Las transeuntes: outra trilha que possui em sua essência o comum. Perde-se em observações e devaneios.
De cara, ao ouvi-la nos imaginamos exatamente numa mesa de um restaurante observando a janela. E realmente tendo os transeuntes como peças centrais daquele momento. 
É de uma felicidade difícil de se encontrar nas músicas do Drexler. Dá uma vontade louca de cantar o refrão logo à primeira ouvida.
Ainda de sobra tem-se uma "spanish guitar", fazendo um belo solo no meio da música e vários belos arranjos. Os quais podem ser ser considerados alguns dos melhores do disco. Indubitavelmente.

4. La nieve en la bola de nieve: O som mais intrigante desse álbum, sem dúvidas. A total coesão entre letra, música e instrumentos. Muito bem executada. Com maravilhosos arranjos de baixo, bateria e percussão. Drexler nessa canção dá vazão à sua veia intimista e até um pouco depressiva. Eu até diria que essa letra é uma jóia para os professores de língua por suas elementais propriedades redativas.

5. Mundo abisal: Para muitos, a obra prima desse cd. Decerto, uma maravilhosa viagem ao inconsciente feminino vista por um homem, a partir de uma relação sexual. Pelo menos assim vejo essa canção. Drexler, conseguiu usar várias figuras de linguagem de forma sutil. E sinceramente, o início da música tem uma atmosfera tão aclimatadora à música, que quando a canção realmente começa, é impresionante como ela delicia. Violão, percussão, bateria e baixo, casando de forma sensacional.
Mas realmente a percussão dela introduz a atmosfera de inflexão da canção e isso se vê bem na parte: "..muestran los dientes..".
Acompanhado dos backing vocais, seguindo fielmente o som.
Existe também, que precisa de menção, o solo de sax, que maravilhosamente abre o final da música. Que tem sua cereja com os backings do fim.

6. Toque de queda: Um tanto abstrata. Fala do toque de recolher (?). Possui um ritmo distinto das demais do cd, tem na simplicidade seu apelido. É cantada por Drexler e sua atual esposa, a atriz Leonor Watling. Que aliás, tem uma voz dura, impactante, diria. E encaixou perfeitamente com a música e com a idéia de desespero que a letra tenta passar quando começar a falar em solidão.
Agradabilidade e "destom". Acho que seriam essas as sensações passadas pela canção.
Tem-se notável também na canção o belo solo de trompete, muito bem executado. Graças à ele tem-se dimensão da intensidade de solidão que se há no ambiente.

7. Una canción me trajo hasta aquí: Parece-me uma canção autobiográfica. E particularmente umas das que mais gosto. Drexler põe nessa canção toda sua espiritualidade. Percebe-se isso pela sua levada prá cima. Existe uma felicidade escancarada em sua letra. E até diria mais: É um ode à sua carreira, e pela possibilidade de fazer o que gosta. Até porque o Drexler é médico e abandonou a outra profissão por amor à música. É de verdade, mais um show dos metais.

8. Aquiles por su talón és Aquiles: Como disse o próprio Drexler: "Não importa o quão forte seja o Aquiles, invariavelmente por causa do seu calcanhar, Aquiles volta a ser Aquiles." 
Uma melodia doce, misteriosa, um tanto poderosa até...no momento em que cresce. Mas de fato, bem sensual.

9. I don´t Worry about a thing: Um cover. Sim, um maravilhoso cover do Mose Allison, com um toque latino do Drexler junto a voz belíssima do Ben Sidran. Uma mistura gostosa de ouvir. Aos primeiros acordes nossos ouvidos já dão boas-vindas à destreza da voz do Drexler em dizer que "não liga prá nada"..
Uma melodia de fácil acompanhamento. Um ritmo bem dançante e amistoso. Ajudado pelo solos de sax e de órgão que dão um toque à mais.. E essa é uma das poucas canções em que a bateria realmente faz um "feijão-com-arroz", algo simples. M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A.

10. Noctiluca: Minha preferida. Carrega em si uma carga emotiva inimaginável. Uma música prá poder viajar e pensar nas coisas mais valiosas da vida. 
O Drexler fez essa canção em Cabo Polônio, uma região ao norte do Uruguai. E é tida como continuação da canção "12 segundos de oscuridad", do cd homônimo. "12 segundos" fala especificadamente de como pode-se estar perdido e encontrado em tão pouco tempo, além de declarar sua angústia naquele momento de vida, a qual se encontrava em momentos de distância e perdas. Já "noctiluca", fala da surpresa de naquele mesmo momento em que tudo se está perdido, receber a notícia que seria pai novamente. E de perceber que ainda existe vida, mesmo quando tudo parece perdido. 
Me parece que o título que Drexler deu para a música foi oportuno.
Prá quem não sabe, Noctiluca, é uma espécie de protista que quando atiçado produz uma luminosidade, que à noite, é um espetáculo natural muito lindo. Drexler os viu, e por esse brilho, comparou a beleza daquele momento com a sensação de ver novamente um filho seu poder nascer em um momento obscuro e sombrio de sua vida, como estava Cabo Polônio.
No cd, Drexler executa-a com a parceria e a ajuda do seu filho mais velho, Pablo. E dá ainda mais carga emocional a ela.

11. Todos a sus puestos: Mais uma rendição de Drexler às percussões. Um simples voz e guitarra, acompanhado de alguns poucos arranjos de cordas e muitas variações de sopros e de percussões, tanto de efeito como de acompanhamento. Dando uma atmosfera sutil, como se prenunciase o fim do disco. De letra fácil e gostosa. 

12. Telón: Uma música típica de autoria do Jorge Drexler. Violão, voz, muito talento e um toque depressivo. De letra curta, é a melhor forma de dar adeus a um belíssimo álbum. E ao mesmo tempo, ter vontade de apertar o play novamente.


Como fã, acredito ser este, o melhor, mais elaborado e mais inteligente álbum do cara. Mesclou tudo numa coisa só. Não é cansativo, repetitivo e nem enjoativo. Dá prá ouvir trilhões de vezes. 
É um álbum distinto, soa novo na coleção. Consegue encher um quarto vazio, facinho, facinho...
E como ele mesmo acredita: "la trama és mejor que el desenlace."

2 comentários:

Anônimo disse...

Jorge Drexler é o meu cantautor favorito!! Sou francesa, filha de Uruguaya e descobri o Drexler faz alguns anos quando meu pai comprou dois de seus albuns : 12 segundos de oscuridad e La edad del cielo. Cuando Amar la Trama saiu eu nao sabia o que esperar e estavamuito ansiosa e fiquei impressionada : com tanta musica boa que ele ja compos ele ainda conseguiu superar minhas expecativas. Escuto TODO o dia pelo menos uma das cancoes de Amar la trama e nao me canso!!

Anônimo disse...

Parabéns, adorei sua analise das musicas.
Adoro as cançoes do Drexler.

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